Orquestra de Caixas: meninas abrem o espetáculo ao som da Caixa de Reis
Este espetáculo, parte do projeto Ponto de Cultura/Ano II, contou com o coletivo do Rosa e Sertão, Comunidade Quilombola Retiro dos Bois e Ponto de Cultura para a sua realização.
A partir do trabalho de pesquisa relacionado aos toques das caixas de Reis e
as toadas das rodas as meninas da orquestras encantaram o espetáculo. Desde o toque,
cabelo, vestimentas, a sintonia, a matriz e o sertanejo se encontravam neste dia.
Ao centro o corpo de dança leva os tambores de nossa matriz africana e arrepia o povo bonito.
Com um toque forte este espetáculo foi conduzido em outra linhagem do espetáculo "Outras Rosas em Rosa" que tinha a leveza e o romantismo da expressão do Miguilim. Neste ano o corpo de dança buscou as origens afrobrasileira.
Ao som forte do atabaque, chocalho e com expressão forte no olhar todas as cenas buscavam o olhar de estranhamento daqueles que assistiam.
Ao som forte do atabaque, chocalho e com expressão forte no olhar todas as cenas buscavam o olhar de estranhamento daqueles que assistiam.
Com a inspiração da história de vida da
comunidade Retiro dos Bois foi realizada, durante três meses, pelos meninos e meninas do Ponto uma pesquisa com
a coordenação de Ladyjane (professora de Dança) e Daiana (musicista) para
compor as cenas.
O espetáculo - corpo de dança, caixeiras e canto coral - contou com tambores, capoeira, capela de D. Lorença (gravada por
Wagner Chaves) e a entrada da dança Manzuá - dança tradicional da comunidade -
finalizando com uma a homenagem ao Grupo que se estendeu a todos os grupos de
dança tradicional de nossa região.
E roda!
Momento da brincadeira, da gozação e do improviso.
Geane, linda Geane. A participação dos jovens no grupo Manzuá é intensa. O Manzuá é um movimento de resistência neste Sertão do Carinhanha. Sertão este duro que clama por um olhar mais atento daqueles que governam este município e o Estado.
Tereza, filha de Seu Duruteo e D.Maria, liderança jovem da comunidade e integrante do Corpo de Dança do Ponto de Cultura Espaço Geral Seu Duchim de Folias.
Uma das responsáveis por conduzir todo o processo de mediação entre o Ponto de Cultura e a comunidade.
Eis nossa matriarca: Dona Lorença Borges, mãe, vó
e companheira ... nossa inspiração. Guerreira desde menina moça. Defendeu com
seu próprio corpo, se jogando a frente do trator esteira que se aproximava com
o objetivo de derrubar sua casa. Eram tempos de grilagem. Mas, será que acabou?
A "firma" ser que rondava a região
tomando terras do povo deste nosso chão, não existe mais. Infelizmente o medo
de roubarem suas terras ronda e ainda existe. As histórias, recados, assédios e
as cercas encontradas ao chão são sinais.
Dona Lorença não participa das rodas junto com o
grupo devido problemas de saúde. A busca por "melhora de vida" a fez partir
da comunidade. Com isso um vão enorme se abriu.
Até a presente data a energia elétrica não chegou,
sendo o motivo maior de sua saída, mas a escola - a altura deste povo merecedor
- com muita luta se ergue: Escola Municipal Quilombola do Retiro dos Bois
(Fundação Palmares juntamente com a prefeitura municipal de Januária).
A associação, após anos de discussão, foi
fundada. Este é um processo de organização comunitária que está sendo
registrado e, com este movimento o Centro de Memória Viva do Ponto busca a
salvaguarda desta nossa diversidade cultural.
Tento levar a vida pensando que a "melhora" chega e, quando ela chegar vamos dar louvores não somente a sua chegada, mas a travessia que nos fortaleceu para vê-la chegar.
Tento levar a vida pensando que a "melhora" chega e, quando ela chegar vamos dar louvores não somente a sua chegada, mas a travessia que nos fortaleceu para vê-la chegar.
Com a retirada silenciosa de
D.Lorença, sua filha, Livina Borges assume o Manzuá. "Pode deixar minha
mãe, o Manzuá não vai acabar, mas é grupo que vou tocar e a comunidade vai
tocando as outras coisas". (Reunião de Formação da Associação. Janeiro de
2012).
Esta frase indica que o "passar de geração para geração" existe sim e devemos acreditar nisso. Enquanto muitos ficam no seu sofá, assistindo TV no dia de domingo, há pessoas que gostariam de mais, mais que isso. Assim, o que cabe a nós sociedade civil e governo é a busca pelo estreitar laços para que todos nós possamos gozar de seus direitos de acesso à: cultura, educação e saúde.
A experimentação
realizada pelo coletivo do audiovisual levantou . Foi realizado um documentário - ainda em finalização- tendo
a história da comunidade como mote.
A ideia central foi pensar a
comunidade quilombola Retiro dos Bois, buscando elementos chaves para
interpretação dos modos de vida, ofícios e política comunitária de organização
e resistência.
Provocar o olhar a esta
comunidade, trouxe outros elementos ligados às demais comunidades tradicionais
existente neste território. Com isso, o debate acerca destes movimentos de
resistência cultural tensionou o coletivo do Ponto a ir além. Identificou-se
que as formas impostas por uma lógica hegemônica que, como o grupo Manzuá, mas
também os grupos da comunidade Ribeirão de Areia, Serra das Araras,
Buraquinhos, Buracos, Retiro Velho, Barro Vermelho, Barreiro Novo, dentre
outros, sofrem, possibilita o giro contrário da roda: a organização
comunitária.
Esta comunidade foi premiada com
o Prêmio Culturas Populares, este fator é merecer de uma reflexão.
As políticas públicas existem,
mas necessitam de uma organização comunitária para acessá-las. Para isso,
romper com esta lógica imposta ao "povo do norte" é preciso.
Vamos à rua, vamos a luta, vamos
buscar o que é nosso!
Pensar as comunidades
tradicionais hoje e como elas se organizam nesta lógica hegemônica imposta.
Ori Viva, ori Viva!
Viva as comunidades tradicionais,
Viva!
Fotos: Leo Lara
Realização: Instituto Rosa e Sertão
Parceria: Governo do Brasil, MinC, Cultura Viva/Programa Pontos de Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais/Pontos de Cultura
Tive o prazer de estar lá, foi um belíssimo espetáculo, parabéns!
ResponderExcluir