quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Ponto de Cultura Espaço Geral Seu Duchim de Folias apresenta: ''Cadê o Manzuá, ainda está lá''

Orquestra de Caixas: meninas abrem o espetáculo ao som da Caixa de Reis
Este espetáculo, parte do projeto Ponto de Cultura/Ano II, contou com o coletivo do Rosa e Sertão, Comunidade Quilombola Retiro dos Bois e Ponto de Cultura para a sua realização.
A partir do trabalho de pesquisa relacionado aos toques das caixas de Reis e as toadas das rodas as meninas da orquestras encantaram  o espetáculo. Desde o toque, cabelo, vestimentas, a sintonia, a matriz e o sertanejo se encontravam neste dia.
Ao centro o corpo de dança leva os tambores de nossa matriz africana e arrepia o povo bonito.

Com um toque forte este espetáculo foi conduzido em outra linhagem do espetáculo "Outras Rosas em Rosa" que tinha a leveza e o romantismo da expressão do Miguilim.  Neste ano o corpo de dança buscou as origens afrobrasileira.

Ao som forte do atabaque, chocalho e com expressão forte no olhar todas as cenas buscavam o olhar de estranhamento daqueles que assistiam.

Com a inspiração da história de vida da comunidade Retiro dos Bois foi realizada, durante três meses, pelos meninos e meninas do Ponto uma pesquisa com a coordenação de Ladyjane (professora de Dança) e Daiana (musicista) para compor as cenas.

O espetáculo - corpo de dança, caixeiras e canto coral -  contou com tambores, capoeira, capela de D. Lorença (gravada por Wagner Chaves) e a entrada da dança Manzuá - dança tradicional da comunidade - finalizando com uma a homenagem ao Grupo que se estendeu a todos os grupos de dança tradicional de nossa região.

E roda!
Momento da brincadeira, da gozação e do improviso.
Geane, linda Geane. A participação dos jovens no grupo Manzuá é intensa. O Manzuá é um movimento de  resistência neste Sertão do Carinhanha. Sertão este duro que clama por um olhar mais atento daqueles que governam este município e o Estado.
 Tereza, filha de Seu Duruteo e D.Maria, liderança jovem da comunidade e integrante do Corpo de Dança do Ponto de Cultura Espaço Geral Seu Duchim de Folias.
Uma das responsáveis por conduzir todo o processo de mediação entre o Ponto de Cultura e a comunidade.
Eis nossa matriarca: Dona Lorença Borges, mãe, vó e companheira ... nossa inspiração. Guerreira desde menina moça. Defendeu com seu próprio corpo, se jogando a frente do trator esteira que se aproximava com o objetivo de derrubar sua casa. Eram tempos de grilagem. Mas, será que acabou?
A "firma" ser que rondava a região tomando terras do povo deste nosso chão, não existe mais. Infelizmente o medo de roubarem suas terras ronda e ainda existe. As histórias, recados, assédios e as cercas encontradas ao chão são sinais.
Dona Lorença não participa das rodas junto com o grupo devido problemas de saúde. A busca por "melhora de vida" a fez partir da comunidade. Com isso um vão enorme se abriu.
Até a presente data a energia elétrica não chegou, sendo o motivo maior de sua saída, mas a escola - a altura deste povo merecedor - com muita luta se ergue: Escola Municipal Quilombola do Retiro dos Bois (Fundação Palmares juntamente com a prefeitura municipal de Januária).
A associação, após anos de discussão, foi fundada. Este é um processo de organização comunitária que está sendo registrado e, com este movimento o Centro de Memória Viva do Ponto busca a salvaguarda desta nossa diversidade cultural.

Tento levar a vida pensando que a "melhora" chega e, quando ela chegar vamos dar louvores não somente a sua chegada, mas a travessia que nos fortaleceu para vê-la chegar.
Com a retirada silenciosa de D.Lorença, sua filha, Livina Borges assume o Manzuá. "Pode deixar minha mãe, o Manzuá não vai acabar, mas é grupo que vou tocar e a comunidade vai tocando as outras coisas". (Reunião de Formação da Associação. Janeiro de 2012).

Esta frase indica que o "passar de geração para geração" existe sim e devemos acreditar nisso. Enquanto muitos ficam no seu sofá, assistindo TV no dia de domingo, há pessoas que gostariam de mais, mais que isso. Assim, o que cabe a nós sociedade civil e governo é a busca pelo estreitar laços para que todos nós possamos gozar de seus direitos de acesso à: cultura, educação e saúde.
A experimentação realizada pelo coletivo do audiovisual levantou . Foi realizado um documentário - ainda em finalização- tendo a história da comunidade como mote.

A ideia central foi pensar a comunidade quilombola Retiro dos Bois, buscando elementos chaves para interpretação dos modos de vida, ofícios e política comunitária de organização e resistência.
Provocar o olhar a esta comunidade, trouxe outros elementos ligados às demais comunidades tradicionais existente neste território. Com isso, o debate acerca destes movimentos de resistência cultural tensionou o coletivo do Ponto a ir além. Identificou-se que as formas impostas por uma lógica hegemônica que, como o grupo Manzuá, mas também os grupos da comunidade Ribeirão de Areia, Serra das Araras, Buraquinhos, Buracos, Retiro Velho, Barro Vermelho, Barreiro Novo, dentre outros, sofrem, possibilita o giro contrário da roda: a organização comunitária.
Esta comunidade foi premiada com o Prêmio Culturas Populares, este fator é merecer de uma reflexão.
As políticas públicas existem, mas necessitam de uma organização comunitária para acessá-las. Para isso, romper com esta lógica imposta ao "povo do norte" é preciso.
Vamos à rua, vamos a luta, vamos buscar o que é nosso!
Pensar as comunidades tradicionais hoje e como elas se organizam nesta lógica hegemônica imposta.
Ori Viva, ori Viva!
Viva as comunidades tradicionais,
Viva!


Fotos: Leo Lara

Realização: Instituto Rosa e Sertão

Parceria: Governo do Brasil, MinC, Cultura Viva/Programa Pontos de Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais/Pontos de Cultura