domingo, 30 de setembro de 2012

"Tempo de Política": algumas reflexões


O programa Prosa e Sertão, realizado na rádio comunitária de Chapada Gaúcha, nasceu de uma proposta muito especial apresentada por Camila - antropóloga e colaboradora do Instituto Rosa e Sertão - em 2008. Neste tempo, ainda com o nome "Prosa da Coop", estabelecemos nossas diretrizes e modelamos o seu formato. Foi reconfigurado em 2010, após um ano sem entrar ao ar e, desde então, é dirigido atualmente pelo Ponto de Cultura - Daiana e Diana - e por mim todas as manhãs de sábado das 8h00 as 9h00.

O objetivo maior é levar a informação ligada às políticas públicas da área da Cultura e Meio Ambiente, disponibilizar as ações e resultados dos projetos realizados no território e, como seu nome já indica, muita prosa e música.

Em especial, no programa de 29 de setembro, realizamos uma programação voltada ao significado da Política e seus desafios junto à população em "tempos de política*". Foi relatada a experiência vivida  pelos diversos brasis e, com isso, abarcando algumas reflexões voltadas ao nosso lugar e dos demais municípios pequenos em todo o país.

Uma das reflexões teve como base a importância de desmistificar a categoria "ajuda" e "amigo" para com a relação eleitor/candidato e/ou candidato/eleitor e, como já indicado por muitos eleitores, o "dar algo" como base de muitas campanhas Brasil afora. Este movimento de “dar ou receber algo” a cada ano se modela, indicando, muitas vezes, a ausência do Estado e o fortalecimento para entrada de assédios morais e econômicos*. Esta ausência, percebida mais fortemente na área da saúde pública, moradia e segurança alimentar.

Estes pontos que aqui apresentamos, realça ainda mais nestes "tempos de política" em que o ato de "políticar*" se torna assunto indispensável, presentes  na padaria, ao  andar pelas ruas, ao fazer sua feira no supermercado ou mesmo em tarde de passeio na praça.

Outro ponto que aqui poderíamos observar, e  é legível, é o interesse despertado em alguns de nós é o interesse em saber quem vai "levar a prefeitura", mais do que como será administrada e a participação da população neste espaço. As cores dos partidos indicam a divisão de núcleos adversários e sua simbologia, ainda mais feroz neste tempo, provoca inimizades. Pela primeira vez, percebemos que as cores são encaradas como vestimentas e armas e, caso não se enquadre neste bicolor, pode ser fatal a sua permanência nestes territórios ou mesmo identificada como avessa a qualquer possíbilidade de "melhora do município".

O pedido é para que reflitamos mais neste "tempo". O que buscamos enquanto municípes? O que de fato nos levaria a fidelidade partidária ou fidelidade com laços de amizade? Quem coloniza quem nesta relação?

Que consigamos perceber as verdadeiras propostas que nos levam a discutir política pública e, a partir desta construção, possibilitar formação de espaços políticos em que as pessoas sejam respeitadas.

Desejo uma ótima semana e que nossas lutas não se percam e que "endurecer é preciso, mas perder a ternura jamais".

Aos candidatos desejo luz e sabedoria e, a nós eleitores, memória, confiança e sabedoria, pois são elementos essenciais para depois do "tempo da política".



Damiana Campos

Referências bibliográficas

*PALMEIRA, Moacir e GOLDMAN, Marcio (orgs.). 1996. Antropologia, Voto e Representação Política. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria. 240 pp. 
*Seria necessário uma reflexão mais aprofundada para este movimento de corrupção e assédio para além do que percebemos.
*Expressão usual neste tempo - é percebida como o ato relatar e saber sobre os comentários, as fofocas ou possíveis alianças partidárias e pessoais.

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