segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Oiê Cadê o Manzuá? Ainda está lá.

 Dona Lorença - Mudou-se da comunidade devido problemas de saúde, mas chora ao lembrar de sua morada.
Esta foto acima foi tirada na festa de comemoração na comunidade do ´Prêmio Culturas Populares/MinC - 2010

Grupo Manzuá na apresentação em São Jorge/GO.

Cadê o Manzuá? Ainda está lá: Comunidade Quilombola pede SOCORRO.


Foi assim que chamei a atenção do Grupo de Trabalho "Comunicação" do IV Encontro Nacional de Comunidades Quilombolas - CONAQ. Este grupo teve por objetivo elaborar encaminhamentos na temática Comunicação para que  as comunidades quilombolas tenham acesso aos meios comunicação e saibam o que se passa neste Brasil a fora.
Publiquei há um tempo atrás neste blog uma postagem que falava um pouco da história e dança do Manzuá da Comunidade Quilombola Retiro dos Bois. Mas voltarei aqui a fazer uma descrição curta, mas importante sobre a atual situação desta comunidade.

Retiro dos Bois  está a 60 km de distância do município de Chapada Gaúcha/MG, sendo 250 km da sua cidade Januária/MG - esta divisão é territorial.

O território desta comunidade pertence ao municipio de Januária que pelo percebido fica muito longe de seus moradores. Há uma luta abafada pelo tempo, isso já fazem 10 anos, que buscam pelo reconhecimento deste território como um chão povoado por GENTE e não apenas por terras soltas.

Esta busca incessante pela passagem da área das comunidades de Patos, Angical e comunidade quilombola Retiro dos Bois para administração do município de Chapada Gaúcha já deixou muita gente doente ou morrer sem ver uma solução. Mas isso não há solução! Além de um processo demorado o bem-querer fala mais alto e está história continua ...

Sempre que podemos tocamos no assunto, procuramos um ou outro para saber mais sobre tudo isso, mas até agora as notícias são as mesmas e as histórias também.

O fato é: não há uma política pública e assistência as comunidades que estão  a mais 250 km de sua cidade. Acreditando que isso aconteça na cidade. Pergunto:

Como pensar uma  logísitca de Assistência médica e Agentes de Saúde Rural pelo menos 1 vez por semana?
Merenda escolar de qualidade pelo sistema do PAA?
Professores capacitados e bem remunerados dando aula em um ambiente satifatório?
Alunos com uma infraestrutura que garanta a sua permanência na escola e uma boa aula que abram os olhos para um mundo melhor lá?
Como dizer a estas pessoas que estão num paraíso, onde o Rio Carinhanha é o seu maior tesouro, sendo que são humilhados e sem chão quando pedem assistência básica e de direito garantido pela constituição? Como garantir que grandes fazendeiros não comprem estas terras por preços abaixo do valor de mercado, sendo que o valor que deveriam ter era apenas de serem reconhecidos como GENTE? E agora?

Este fato é dado por muitos moradores de Chapada e também por aqueles que são “parentes”. Muitos são sabedores da interferência nas relações sociais não apenas como deslocamento  físico, mas também psíquicas e morais.

Mas é percebido também na fala de alguns moradores da região que o pertencimento a esta terra e sua identidade territorial depende não somente de suas mãos ou vozes:

"Se é tempo de política muitos são Chapada Gaúcha, se é tempo de doença são Januária, mas não dá tempo de chegar até lá e precisam ser Chapada, mas agora tão dizendo que a gente não pode mais ser de Chapada por causa do cartão SUS. Este trem não tá certo não, como é que eu vou lá para Januária se eu tô doente minha irmã?". (moradora da comunidade Retiro dos Bois)

Outro caso de um morador de 60 anos sobre a dificuldade de logística territorial:

"Eu tô pra tirar uma chapra e não posso mais, por que disseram que só atende emergência, agora eu tenho que morrer pra me atender". (morador da comunidade quilombola Retiro dos Bois)

Esta situação é diária no Posto Médico de Chapada Gaúcha que ainda faz muito para com a comunidade, mas devido à burocracia e por entender que cada município é responsável pelos seus moradores, não atendem mais.
Procurando funcionários do Centro Médico  fomos informados que: "Devido novo Sistema, este informatizado e que libera os encaminhamentos para exames e consultas fora do município, todos os cadastrados pelo município de Januária tem que encaminhar seus exames para serem feitos no próprio município que faz parte e que apenas casos emergenciais poderiam ser realizados aqui".

Foi ainda apresentado o acordo entre a  Prefeitura de Januária e Prefeitura de Chapada Gaúcha que incluí apenas o direito de atendimento de UM paciente ao mês para consutas e exames. Isso sim é um desagravo aos direitos constitucionais.

Os moradores pedem SOCORRO!!!

Não podemos deixar isso acontecer com uma comunidade que é referencia cultural e que encanta a todos com sua alegria e seus tambores. As violas estão de luto mais uma vez.

Há um quase um ano a comunidade aguarda retorno sobre a morte de um dos moradores da comunidade - brutalmente morto com 8 tiros por um sargento da PM a paisana numa festa da cidade - este caso também sem notícias ou mesmo soluções.

Já não existe formas de se pensar o isolamento como "desculpa". Estar isolado hoje é não ter os seus direitos garantidos.
Estas ações e acontecimentos somente levam a auto-estima a nível zero, mas mesmo assim eles ainda continuam a cantar:

Oiê cadê o Manzuá?

Ainda está lá.



Texto: Damiana Campos

5 comentários:

  1. PARABÉNS PELO SEU TRABALHO DARLAN FORMOSO -MG

    ResponderExcluir
  2. DAMIANA ATRAVES DE PESSOAS COMO VC QUE A SOCIEDADE MOSTRA SUA INDENTIDADE CULTURA.

    DARLAN
    FORMOSO -MG

    ResponderExcluir
  3. DESCULPA ERRO DE PORTUGUÊS IDENTIDADE CULTURAL

    ResponderExcluir
  4. Ei Darlan,

    Ainda não temos muito por fazer, mas dar voz a estes assuntos é fundamental, pois teremos mais pessoas pensando juntas!
    Estamos nestas juntos!
    Damiana

    ResponderExcluir
  5. olá Damiana,
    adorei seu texto sobre o Manzuá, eu os conheci no encontro de culturas tradicionais em Goiás e gostaria de saber se você tem algum video da apresentação deles.
    Se puder, mande um link de um vídeo para abiliocarrascal@gmail.com

    Muito obrigado!

    ResponderExcluir